terça-feira, 29 de junho de 2010



(...) Nunca dei presentes a ela, nunca recebi nada. Não conheci a letra dela, nunca a vi escrevendo. Não sei se sua caligrafia era redonda ou inclinada, legível ou feia, ou se ela colocava bolinhas em lugar dos pingos nas letras. Eu nunca disse que a amava nem a ouvi dizer isso para mim. Nunca falamos de amor, de filhos, de amantes, de passado. De futuro. (...) Foi assaltada alguma vez? Transou quando na verdade estava a fim de dormir e esquecer? Nunca soube se ela viajou de trem ou de navio. Se teve vontade de matar alguém que um dia amou. (...) Se alguma noite perdeu o sono por causa de dívidas. Se pensou em fugir. Se lembrava dos sonhos depois que acordava. Se sonhava. (...) Se sorriu para pessoas pensando em mandá-las à merda. (...) De gente que tem medo do escuro. E de quem sabe que temos escuros dentro da gente. Eu não soube nada disso. (...) E era bom. No entanto, eu sabia sua altura. Por que ela precisava ficar na ponta dos pés toda vez que nos beijávamos.
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Marçal Aquino

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