terça-feira, 30 de novembro de 2010


"Não me agüentava, mas ia. Sempre fui quando não me agüentava; a verdade é que sempre sou quando não me suporto."

(Fabrício Carpinejar)

Tu és a matéria plástica de meus versos, querida...
Porque, afinal,
Eu nunca fiz meus versos propriamente a ti:
Eu sempre fiz versos de ti!

(Mario Quintana;
Velório sem defunto, 1990)

Tenho uma grande curiosidade do Outro Lado.
(Que haverá do Outro Lado, meu Deus?)
Mas também não tenho muita pressa...
Porque neste nosso mundo há belas panteras, nuvens, mulheres belas,
Árvores de um verde assustadoramente ecológico!
E lá - onde tudo recomeça -
Talvez não chova nunca,
Para a gente poder ficar em casa
Com saudades daqui...

(
Mario Quintana; Velório sem defunto, 1990)

Aceita o universo
Como to deram os deuses.
Se os deuses te quisessem dar outro
Ter-to-iam dado.
Se há outras matérias e outros mundos
Haja.

(Alberto Caeiro)
Querem campos mais verdes que estes!
Querem flores mais belas que estas que vejo!
A mim este sol, estes campos, estas flores contentam-me.
Mas, se acaso me descontento,
O que quero é um sol mais sol que o sol,
O que quero é campos mais campos que estes prados,
O que quero é flores mais estas flores que estas flores -
Tudo mais ideal do que é do mesmo modo e da mesma maneira !

(Alberto Caeiro)

"Eu sei qual é o segredo da esfinge.
Ela não me devorou porque respondi certo à resposta.
Mas eu sou um enigma para a esfinge e no entanto não a devorei.
Decifra-me, disse eu à esfinge. E esta ficou muda."

(Clarice Lispector)

segunda-feira, 29 de novembro de 2010

“O amor jamais foi um sonho,
o amor, eu bem sei, já provei,
é um veneno medonho.
É por isso que se há de entender que o amor não é ócio,
e compreender que o amor não é um vício,
o amor é sacrifício, o amor é sacerdócio.”

(Chico Buarque)
"É fácil morrer. A toda hora, em todos os lugares, a morte está se oferecendo. Mas difícil é continuar vivendo. Eu continuo. Não sei se gosto, mas tenho uma curiosidade imensa pelo que vai me acontecer, pelas pessoas que vou conhecer, por tudo que vou dizer e fazer e ainda não sei o que será."

(Caio Fernando Abreu)

"Quando amo / Eu devoro / Todo o meu coração
Eu odeio / Eu adoro / Numa mesma oração."

Chico Buarque

domingo, 28 de novembro de 2010

Nosso Rio de Janeiro, Cidade Maravilhosa.

O Rio de Janeiro
Continua lindo.
O Rio de Janeiro
Continua sendo.
(Gilberto Gil)



Lá bem no alto do décimo segundo andar do Ano
Vive uma louca chamada Esperança
E ela pensa que quando todas as sirenas
Todas as buzinas
Todos os reco-recos tocarem
Atira-se
E
— ó delicioso vôo!
Ela será encontrada miraculosamente incólume na calçada,
Outra vez criança...
E em torno dela indagará o povo:
— Como é teu nome, meninazinha de olhos verdes?
E ela lhes dirá
(É preciso dizer-lhes tudo de novo!)
Ela lhes dirá bem devagarinho, para que não esqueçam:
— O meu nome é ES-PE-RAN-ÇA...

(Mário Quintana)

sábado, 27 de novembro de 2010


" Penso que chega um momento na vida da gente em que
o único dever é lutar ferozmente por introduzir no topo
de cada dia, o máximo da eternidade ..."

(Guimarães Rosa)
"Nenhuma palavra dói mais do que a ausência de palavras. Você não é tolo e sabe muito bem disso. Você me impunha um silêncio devastador. Sumia, não dava notícias, fazia de propósito, queria me ver chegar perto da morte, paralisada, sem forças. Eu esperava o telefone tocar, ele não tocava. (...) Esperava o apito do meu computador avisando a chegada de um novo e-mail, ele não apitava. Esperava uma carta, um sinal de fumaça, uma mensagem no celular, esperava que você aparecesse e trouxesse consigo alguma palavra. Esperava e esperava e esperava. E você não vinha. Você me deixava a sós com esse silêncio que dói mais do que um grito arranhado, do que um corte profundo na carne, que dói mais do que a palavra dor".

(Tatiana Salem Levy)
"Teria sido preferível que você partisse para a legião estrangeira depois daquele encontro... ah, teria sido o perfeito: um homem que me dava o maravilhoso e depois ia embora, sem tempo para me magoar, sem tempo de matar o sonho... nunca mais foi assim, nunca mais aquele encontro das primeiras descobertas... eu sabia que ia ser diferente da próxima vez, quando me despedi de você... mas, inevitavelmente, eu iria me encontrar com você e voltar, sempre e sempre, esperando que se repetissem a leveza e a entrega do primeiro encontro... mas isso parecia irrecuperável... não, você não era o Gary Cooper, nem nenhum daqueles galãs gentis do tempo da minha mãe... não, você não iria para a legião estrangeira, nem para a China, nem para nenhum lugar distante... eu teria que te ver todos os dias e, dia a dia, me entregar à tua maldição porque o meu lado escuro, essa parte maldita de mim, há tanto tempo adormecida, já tinha sido despertada e reconhecia em você o sujeito da minha perdição".

(Maria Adelaide Amaral in "De braços abertos")
"Eu não disse nada. Talvez tenha olhado para ela com sarcasmo, não sei. Mais ainda porque o sarcasmo não é uma coisa que você impõe ao outro, o outro simplesmente vê ou não vê, e se sente atingido ou não. De que adianta todo o sarcasmo do mundo se o outro não percebe. É necessário que o outro perceba a tua fina ironia, é necessário que o outro seja uma superfície lisa o suficiente para te refletir. É necessário que o outro ao menos te escute".

(Carola Saavedra)

quinta-feira, 25 de novembro de 2010


"Abandone-se, tente tudo suavemente, não se esforce por conseguir – esqueça completamente o que aconteceu e tudo voltará com naturalidade."

(Clarice Lispector)

"Há sonhos que devem permanecer nas gavetas,
nos cofre, trancados até o nosso fim.
E por isso passíveis de serem sonhados a vida inteira."

(Hilda Hilst)

"Ela era subterrânea e nunca tinha tido floração.
Minto: ela era capim.
"

(Clarice Lispector in “A hora da estrela”)

"Comigo você falará sua alma toda, mesmo em silêncio.
Eu falarei um dia minha alma toda , e nós não nos esgotaremos porque a alma é infinita."

(Clarice Lispector)

Não marques limites ao teu caminho.
A eternidade é muito longa.
E dentro dela tu te moves, eterna.
Sê o que vem e o que vai.
Sem forma. Sem termo.
Como uma grande luz difusa.
Filha de nenhum sol.

(Cecília Meireles)
Que importa se - depois de tudo - tenha "ela" partido
ou que quer que te haja feito, em suma ?

Tiveste uma parte da sua vida que foi so tua e, esta,
ela jamais a podera passar de ti para ninguem.

Ha bens inalienaveis, ha certas momentos que,
ao contrario do que pensas,
fazem parte de tua vida presente
e nao do teu passado.

E abrem-se no teu sorriso mesmo quando, deslembrado deles,
estiveres sorrindo a outras coisas.

Ah, nem queiras saber o quanto deves a ingrata criatura ...
A thing of beauty is a joy for ever
- disse, ha cento e muitos anos,
um poeta ingles que nao conseguiu morrer.

(Mário Quintana)

"Cuide-se como se você fosse de ouro, ponha-se você mesmo de vez em quando numa redoma e poupe-se."

(Clarice Lispector)

sábado, 20 de novembro de 2010


"Digo: o real não está na saída nem na chegada:
ele se dispõe para a gente é no meio da travessia".


(Guimarães Rosa)
Gosto da minha palavra
pelo sabor que lhe deste:
mesmo quando é linda, amarga
como qualquer fruto agreste.
Mesmo assim amarga, é tudo
que tenho, entre o sol e o vento:
meu vestido, minha música,
meu sonho e meu alimento.

(Cecília Meireles)

"Nada mais que possibilidades. Nada mais que desejos.
E, de repente, ser realização, ser verão, ter sol."


(Rainer Maria Rilke)

Ela fazia muitos planos
Eu só queria estar ali
Sempre ao lado dela
Eu não tinha aonde ir

(...)

(Renato Russo in "Ainda é Cedo).

"Se um dia me arriscar num outro lugar,
hei-de levar comigo a estrada que não me deixa sair de mim."


(Mia Couto)

"Passava os dias ali, quieto, no meio das coisas miúdas.
E me encantei."



(Manoel de Barros)

quinta-feira, 18 de novembro de 2010

"Quando você voltar outra vez, veja se você me traz uma maçã bem verde,a mais verde que você encontrar,uma maçã que leve tanto tempo para apodrecer ,que quando você voltar outra vez ela ainda nem tenha amadurecido direito."
.
(Caio Fernando Abreu)

quarta-feira, 17 de novembro de 2010


"Ela teve pela primeira vez na vida uma coisa, a mais preciosa: a solidão."

(Clarice Lispector in "A hora da Estrela").
"Escrever é tantas vezes lembrar-se do que nunca existiu. Como conseguirei saber do que ao menos sei? assim: como se me lembrasse. Com um esforço de memória, como se eu nunca tivesse nascido. Nunca nasci, nunca vivi: mas eu me lembro, e a lembrança é em carne viva".

(Clarice Lispector in "A Legião Estrangeira").
Escreverás meu nome com todas as letras,
com todas as datas,
— e não serei eu.

Repetirás o que me ouviste,
o que leste de mim, e mostraras meu retrato,
—- e nada disso serei eu

Dirás coisas imaginárias,
invenções sutis, engenhosas teorias,
— e continuarei ausente,

Somos uma difícil unidade,
de muitos instantes mínimos,
— isso serei eu.

(Cecília Meireles)
"Somos donos dos nossos atos, mas não somos donos dos nossos sentimentos.Somos culpados pelo que fazemos, mas não somos culpados pelo que sentimos.Podemos prometer atos, mas não podemos prometer sentimentos... Atos são pássaros engaiolados; sentimentos são pássaros em vôo."

(Mário Quintana)

terça-feira, 16 de novembro de 2010

"Diz o Alberto Caeiro que “não é bastante não ser cego para ver as árvores e as flores. É preciso também não ter filosofia nenhuma”. Filosofia é um monte de idéias, dentro da cabeça, sobre como são as coisas. Aí a gente que não é cego abre os olhos. Diante de nós, fora da cabeça, nos campos e matas, estão as árvores e as flores. Ver é colocar dentro da cabeça aquilo que existe fora. As árvores e as flores entram. Mas – coitadinhas delas – entram e caem num mar de idéias. São misturadas nas palavras da filosofia que mora em nós. Perdem a sua simplicidade de existir. Ficam outras coisas. Então, o que vemos não são as árvores e as flores. Para se ver é preciso que a cabeça esteja vazia."
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(Rubem Alves)
“Virei outro. Tratei de reler os clássicos que me mandaram ler na adolescência, e não aguentei. Mergulhei nas letras românticas que tanto repudiei quando minha mãe quis me forçar a ler e gostar, e através delas tomei consciência de que a força invencível que impulsionou o mundo não foram os amores felizes e sim os contrariados.”
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(Gabriel García Márquez)
“Quando penso que um palavra
Pode mudar tudo
Não fico mudo
Mudo
Quando penso que um passo
Descobre o mundo
Não paro o passo
Passo
E assim que passo e mudo
Um novo mundo nasce“
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(Alice Ruiz)
“Você não está entendendo quase nada do que eu digo. Eu me sento, eu fumo, eu como, eu não aguento, eu quero tocar fogo neste apartamento. Você não acredita. Você tem que saber que eu quero correr mundo, correr perigo. Eu quero é ir-me embora, eu quero dar o fora.”
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(Caetano Veloso)
“Amanheci em cólera. Não, não, o mundo não me agrada. A maioria das pessoas estão mortas e não sabem, ou estão vivas com charlatanismo. E o amor, em vez de dar, exige. E quem gosta de nós quer que sejamos alguma coisa de que eles precisam. Mentir dá remorso. E não mentir é um dom que o mundo não merece.”
.
(Clarice Lispector)

segunda-feira, 15 de novembro de 2010


"Sabia
Gosto de você chegar assim
Arrancando páginas dentro de mim
Desde o primeiro dia".

(Chico Buarque)
"Nisso tive sorte. Assim encontrei e perdi Clarisse. A torrente de cor da minha vida. Fiz-lhe demasiado mal, fornicando mulheres em série para tentar apagar a marca do seu corpo, a força do meu amor por ela. Ou pior: sem sequer me dar conta de que a amava. Nunca lho disse. Nunca o disse a ninguém. Nem sequer lhe disse que adorava as covinhas no fundo das suas costas, o sinal do seu pescoço, a largura das suas ancas. Quando me sentia viciado nela engatava outra, dez quilos mais magra, alguém que não pudesse confundir com ela. (...) Ninguém é feliz. Nenhum destes meus amigos é feliz, é também por isso que gosto deles".

(Inês Pedrosa)

"Arrumei os amores, é a primeira regra da vida - saber arquivá-los, entendê-los, contá-los, esquecê-los. Mas ninguém nos diz como se sobrevive ao murchar de um sentimento que não murcha”.

(Inês Pedrosa)

"Preciso tomar ar, fingir que sou normal & tenho um profundo interesse pelas pessoas e acontecimentos culturais e todas essas estonteantes possibilidades urbanas".

(Caio Fernando Abreu in "Cartas").
"Agora ando mais calmo. Não muito, verdade. Mas desde que ganhei meu PhD em desilusão amorosa, aos 40 anos, tenho me divertido como nunca. Ai, que maravilha arrebentar o mito do Amor Eterno! Me associei ao Zé Simão na campanha "sem medo de ser biscate", e assim vou indo, até que algum Richard Burton resolva me dar um diamante do tamanho do Ritz (o hotel, não o bar, please). Pouco provável".

(Caio Fernando Abreu in "Cartas").

"Tenho pensado (paranóica!) se os dias em que passei aí não foram um suplício para você. Às vezes acontece de só quando um hóspede vai embora a gente se dá conta do quanto estava de saco cheio".

(Caio Fernando Abreu in "Cartas").
"Posso não saber nada do coração das gentes, mas tenho a impressão, de que, de tudo, o pior é quando entra a segunda parte da letra de “Atrás da porta”, ali no quando “dei pra maldizer o nosso lar pra sujar teu nome, te humilhar”. Chico Buarque é ótimo pra essas coisas. Billie Holiday é ótima pra essas coisas. E Drummond quando ensina que “o amor, caro colega, esse não consola nunca de núncaras”. Aí você saca que toda música, toda letra, todo poema, todo filme, toda peça, todo papo, todo romance, tudo e todos o tempo todo, antes, agora e depois, falam disso. Que o que você sente é único & indivisível e é exatamente igual à dor coletiva, da Rocinha a Biarritz".

(Caio Fernando Abreu in "“Para sempre teu, Caio F.”")

domingo, 14 de novembro de 2010

Não existo.
Sou o intervalo entre o que desejo ser e os outros me fizeram,
ou metade desse intervalo, porque também há vida ...
Sou isso, enfim ...

(Álvaro de Campos)
"Não vai ser em vão que fiz tantos planos de me enganar,
como fiz enganos de me encontrar,
como fiz estradas de me perder,
fiz de tudo e nada de te esquecer."

(Chico Buarque in "Sabiá").

quinta-feira, 11 de novembro de 2010

"Atrás do pensamento não há palavras : é - se.
Nesse terreno do é - se sou puro êxtase cristalino.
É - se. Sou - me. Tu te és."

(Clarice Lispector)
Hoje de manhã saí muito cedo,
Por ter acordado ainda mais cedo
E não ter nada que quisesse fazer...

Não sabia que caminho tomar
Mas o vento soprava forte, varria para um lado,
E segui o caminho para onde o vento me soprava nas costas.

Assim tem sido sempre a minha vida, e
Assim quero que possa ser sempre
Vou onde o vento me leva e não me
Sinto pensar.

(Alberto Caeiro)

"Você acha que eu ofendo a minha estrutura social
com a minha enorme liberdade?"


(Clarice Lispector)
A esperança me chama e eu salto a bordo como se fosse
a primeira viagem.
Se não conheço os mapas, escolho o imprevisto :
qualquer sinal é um bom presságio.
Seja como for, eu vou, pois quase sempre acredito :
ando de olhos fechados mas não desisto.

A dor eventual é o preço da vida : passagem, seguro e pedágio.

(Lya Luft)