Tu sabes, Senhor, que desejo preservar alguns amigos e uma boa relação com os filhos, e que só se preserva os amigos e filhos quando não há intromissão.
Livra-me, também, Senhor, da tolice de querer contar tudo com detalhes e minúcias e dá-me asas para voar diretamente ao ponto que interessa.
Ensina-me a fazer silêncio sobre minhas dores e doenças. Elas estão aumentando e, com isso, a vontade de descrevê-las vai crescendo a cada ano que passa. Não ouso pedir o dom de ouvir com alegria a descrição das doenças alheias; seria pedir muito. Mas, ensina-me, Senhor, a suportar ouvi-las com paciência.
Ensina-me a maravilhosa sabedoria de saber que posso errar em algumas ocasiões. Já descobri que as pessoas que acertam sempre são maçantes e desagradáveis.
Mas, sobretudo, Senhor, nesta prece de envelhecimento, peço: mantenha-me o mais amável possível. Livrai-me de ser um santinho. É difícil conviver com santos! Mas velhos rabugentos Senhor, é obra prima de Satanás. Ajuda-me a ainda extrair da vida tudo o que for possível e bom. À nossa volta há coisas divertidas e interessantes e não quero perder nenhuma delas. Amém.
(Desconheco o autor, mas é lindo e sincero)
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