quinta-feira, 23 de setembro de 2010

Queria mais era dar para o meu bem um pouco da cor dos crepúsculos desses dias frios, o contorno do morro. Dois Irmãos que vi ainda há pouco no horizonte de Ipanema, o olhar incrivelmente saudável daquela menina doente que encontrei no metrô outro dia, a capacidade de manter o desfrute do prazer sempre no plano do consciente para que haja o engrandecimento da alma, a percepção de que a mentira às vezes ocorre de forma tão espontânea quanto a transpiração, a capacidade de perceber que o sorriso do cachorro está no rabo; uma, só uma bolinha da água Pellegrino, um pastel de feira de palmito, uma, só uma, taça de champanhe rosê, um livro para ser lido com prazer até o fim, um banho de infusão com sal grosso ou ervas finas. Gostaria, quem sabe, de dar um pouco de certeza, mas não tenho nenhuma disponível no momento. Talvez uma resposta, mas nem sequer sei a pergunta! Um pouco de luz, mas perdi os fósforos... Uma palavra amiga, mas minha garganta está meio seca e muda. Carinho, sim, daria, ou pelo menos tentaria dar, para quem soubesse ou se dispusesse a receber o meu tipo. Será que há? Quem sabe, pensei, poderia fazer um discurso retumbante, recitar versos emocionantes ou transpor muros e montanhas para fixar, lá no alto, a bandeira das minhas sensibilidades e das carências? Desisti, porque me lembrei de que, quando você tem realmente alguém para chamar de seu, quando conquista esse direito, quando é premiado com essa dádiva, não há necessidade nenhuma de comprová-lo, afirmar ou reafirmar. Mesmo que a vontade seja a de mudar como um deus o curso da história por causa do seu bem, nada há a explicar, solicitar, expor, mencionar, muito menos a exigir, cobrar, requisitar. Não. Quando você realmente tem alguém para chamar de seu, basta dizer "meu bem" que fica tudo bem.
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(Luiz Caversan)

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