quinta-feira, 29 de julho de 2010

"Reze e trabalhe, fazendo de conta que esta vida é um dia de capina com sol quente, que às vezes custa a passar, mas sempre passa.E você ainda pode ter muito pedaço bom de alegria (...) Cada um tem a sua hora e a sua vez: você ainda há de ter a sua."
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[Guimarães Rosa, in Sagarana]

"Se calei foi de tristeza você cala por calar [...] (Avôhai)

"Descobri que minha obsessão por cada coisa em seu lugar, cada assunto em seu tempo, cada palavra em seu estilo, não era o prêmio merecido de uma mente em ordem, mas, pelo contrário, todo um sistema de simulação inventado por mim para ocultar a desordem da minha natureza. Descobri que não sou disciplinado por virtude, e sim como reação contra a minha negligência; que pareço generoso para encobrir minha mesquinhez, que me faço passar por prudente quando na verdade sou desconfiado e sempre penso o pior, que sou conciliador para não sucumbir às minhas cóleras reprimidas, que só sou pontual para que ninguém saiba como pouco me importa o tempo alheio. Descobri, enfim, que o amor não é um estado da alma e sim um signo do zodíaco."
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[Gabriel Garcia Marquez]

God, oh God. Acredite em mim!

"E hoje não. Que não me doa hoje o existir dos outros, que não me doa hoje pensar nessa coisa puída de todos os dias, que não me comovam os olhos alheios e a infinita pobreza dos gestos com que cada um tenta salvar o outro deste barco furado. Que eu mergulhe no roxo deste vazio de amor de hoje e sempre e suporte o sol das cinco horas posteriores, e posteriores, e posteriores ainda."
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[Grande Caio, Mestre Fernando, Mágico Abreu, C.F.A]

"Isso será coragem minha, a de abandonar sentimentos antigos já confortáveis." (Clarice Lispector in “A hora da estrela”)

"Porque entre o sim e o não é só um sopro, entre o bem e o mau apenas um pensamento, entre a vida e a morte só um leve sacudir de panos - e a poeira do tempo, com todo o tempo que eu perdi, tudo recobre, tudo apaga, tudo torna tão simples e tão indiferente..."
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[Lya Luft]

"Você está confundindo teimosia com força, minha querida." (do filme, "A Jovem Rainha Vitória")



"Me sinto bem em não participar de nada. Me alegra não estar apaixonado e não estar de bem com o mundo. Gosto de me sentir estranho a tudo..."
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[Charles Bukowski]



Deixe-me ir preciso andar,
Vou por aí a procurar,
Sorrir pra não chorar
Quero assistir ao sol nascer,
Ver as águas dos rios correr,
Ouvir os pássaros cantar,
Eu quero nascer, quero viver...
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[Cartola]


"Mas eu, em cuja alma se refletem
As forças todas do universo,
Em cuja reflexão emotiva e sacudida
Minuto a minuto, emoção a emoção,
Coisas antagônicas e absurdas se sucedem
— Eu o foco inútil de todas as realidades,
Eu o fantasma nascido de todas as sensações,
Eu o abstrato, eu o projetado no écran,
Eu a mulher legítima e triste do Conjunto
Eu sofro ser eu através disto tudo como ter sede sem ser de água."
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[Álvaro de Campos]


E afinal o que quero é fé, é calma,
E não ter estas sensações confusas.
Deus que acabe com isto! Abra as eclusas
— E basta de comédias na minh’alma!
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[Fernando Pessoa]

"Naquele dia, deixei de ser um reflexo dos meus escassos triunfos passados e passei a ser a minha própria tênue luz deste presente. Aprendi que de nada serve ser luz se não vai iluminar o caminho dos demais. Naquele dia, decidi trocar tantas coisas... Naquele dia, aprendi que os sonhos são somente para fazer-se realidade. E desde aquele dia já não durmo para descansar... Agora simplesmente durmo para sonhar."
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[Walt Disney]

"Nós ainda somos moços, podemos perder algum tempo sem perder a vida inteira. Mas olhe para todos ao seu redor e veja o que temos feito de nós e a isso considerado vitória nossa de cada dia. Não temos amado, acima de todas as coisas. Não temos aceito o que não se entende porque não queremos passar por tolos. Temos amontoado coisas e seguranças por não nos termos um ao outro. Não temos nenhuma alegria que já não tenha sido catalogada. Temos construído catedrais, e ficado do lado de fora pois as catedrais que nós mesmos construímos, tememos que sejam armadilhas. Não nos temos entregue a nós mesmos, pois isso seria o começo de uma vida larga e nós a tememos. Temos evitado cair de joelhos diante do primeiro de nós que por amor diga: tens medo.... Não temos sido puros e ingênuos para não rirmos de nós mesmos e para que no fim do dia possamos dizer"pelo menos não fui tolo" e assim não ficarmos perplexos antes de apagar a luz.... E a tudo isso consideramos a vitória nossa de cada dia."
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[Clarice Lispector]


Até quando terás, minha alma, esta doçura, este dom de sofrer, este poder de amar, a força de estar sempre – insegura – segura como a flecha que segue a trajetória obscura, fiel ao seu movimento, exata em seu lugar...?

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Cecília Meireles



eu quero ser aberto por punhais

e escavado no fundo dos meus ossos

quero abrir esta alma que me morde

como se abre uma noz,

ver o que encontro

quero saber bem claro isto da vida:

que louco insaciável represento,

de que sede, que febre somos feitos.

[Héctor Yánover]



"Não é solidão com asas, é o silêncio da prisioneira, é a mudez de pássaros e vento, é o mundo irritado com meu riso ou os guardiões do inferno rompendo minhas cartas. Tenho chamado, tenho chamado. Tenho chamado até nunca. "

[Alejandra Pizarnik]

Era ainda jovem demais..

Era ainda jovem demais para saber que a memória do coração elimina as más lembranças e enaltece as boas e que graças a este artifício conseguimos suportar o passado.

(Gabriel Garcia Marquez)




"Rogou a Deus que lhe concedesse ao menos um instante para que ele não partisse sem saber quanto o amara por cima das dúvidas de ambos e sentiu a premência irresistível de começar a vida com ele outra vez desde o começo para que se dissessem tudo que tinham ficado sem dizer, e fizessem bem qualquer coisa que tivessem feito mal no passado. Mas teve que render-se à intransigência da morte."

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Gabriel Garcia Marquez, in "O Amor nos Tempos do Cólera".


quarta-feira, 28 de julho de 2010

O Conselho das Árvores.



Sofro, luz dos meus olhos, quando dizes
Que a vida não te alenta nem conforta.
Olha o exemplo das árvores felizes
Dentro da solidão da noite morta.
Que lhes importa a dor, que lhes importa
O drama que há no fundo das raízes?
Não sentem quando o vento os ramos corta
E as folhas leva em várias diretrizes?
Que lhes importa a maldição do outono
E os dedos envolventes da garoa,
Se dão sombra às taperas no abandono?!...
Levanta os braços para o firmamento
E canta a vida porque a vida é boa
Mesmo esmagada pelo sofrimento.
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Olegário Mariano

A vida, Senhor Visconde, é um pisca-pisca. A gente nasce, isto é, começa a piscar. Quem pára de piscar, chegou ao fim, morreu. Piscar é abrir e fechar os olhos – viver é isso. É um dorme-e-acorda, dorme-e-acorda, até que dorme e não acorda mais. A vida das gentes neste mundo, senhor sabugo, é isso. Um rosário de piscadas. Cada pisco é um dia. Pisca e mama. Pisca e anda. Pisca e brinca. Pisca e estuda. Pisca e ama. Pisca e cria filhos. Pisca e geme os reumatismos. Por fim, pisca pela última vez e morre.
- E depois que morre – perguntou o Visconde.
- Depois que morre, vira hipótese. É ou não é?”
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(Monteiro Lobato, em Memórias de Emilia)

Quando se aprende à amar, o mundo passa a ser seu. (RUSSO, Renato)



Ainda que eu falasse as línguas dos homens e dos anjos, e não tivesse amor, seria como o metal que soa ou como o sino que tine.
E ainda que tivesse o dom de profecia, e conhecesse todos os mistérios e toda a ciência, e ainda que tivesse toda a fé, de maneira tal que transportasse os montes, e não tivesse amor, nada seria.
E ainda que distribuísse toda a minha fortuna para sustento dos pobres, e ainda que entregasse o meu corpo para ser queimado, e não tivesse amor, nada disso me aproveitaria.
O amor é sofredor, é benigno; o amor não é invejoso; o amor não trata com leviandade, não se ensoberbece.
Não se porta com indecência, não busca os seus interesses, não se irrita, não suspeita mal;
Não folga com a injustiça, mas folga com a verdade;
Tudo sofre, tudo crê, tudo espera, tudo suporta.
O amor nunca falha; mas havendo profecias, serão aniquiladas; havendo línguas, cessarão; havendo ciência, desaparecerá;
Porque, em parte, conhecemos, e em parte profetizamos;
Mas, quando vier o que é perfeito, então o que o é em parte será aniquilado.
Quando eu era menino, falava como menino, sentia como menino, discorria como menino, mas, logo que cheguei a ser homem, acabei com as coisas de menino.
Porque agora vemos por espelho em enigma, mas então veremos face a face; agora conheço em parte, mas então conhecerei como também sou conhecido.
Agora, pois, permanecem a fé, a esperança e o amor, estes três, mas o maior destes é o amor.
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1 Coríntios 13, Sagrada Bíblia.

Deus é a palavra. Cuidado com o que você fala em qualquer situação ou instante de sua vida.


É preciso amar o inútil. Criar pombos sem pensar em comê-los, plantar roseiras sem pensar em colher rosas, escrever sem pensar em publicar, fazer coisas assim, sem esperar nada em troca. A distância mais curta entre dois pontos pode ser a linha reta, mas é nos caminhos curvos que se encontram as melhores coisas. A música ... Este céu que nem promete chuva ... Aquela estrelinha que está nascendo ali... está vendo aquela estrelinha? Há milênios não tem feito nada, não guiou os Reis Magos, nem os pastores, nem os marinheiros perdidos... Não faz nada. Apenas brilha. Ninguém repara nela porque é uma estrela inútil. Pois é preciso amar o inútil porque no inútil está a Beleza. No inútil também está Deus."
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Ligia Fagundes Telles, em Ciranda de Pedra.

"Aprendi que minhas delicadezas nem sempre são suficientes para despertar a suavidade alheia, e mesmo assim insisto." (ABREU, Caio F.)


Não sei perder minha vida.
Não sei qual a minha culpa mas, peço perdão.
A luz do farol revelou-os tão rapidamente que não puderam ver.
Peço perdão por não ser uma "estrela" ou o "mar".
Ou por não ser alegre nas coisa que se dá.
Peço perdão por não saber me dá nem a mim mesma,
para me dar desse modo a minha vida se fosse preciso
mas, peço de novo perdão
não sei perder minha vida.
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Clarice Lispector

Um band-aid no coração, um sorriso nos lábios – e tudo bem. O que se há de fazer? (ABREU, Caio F.)

Quando fazemos tudo para que nos amem e não conseguimos, resta-nos um último recurso: não fazer mais nada. Por isso, digo, quando não obtivermos o amor, o afeto ou a ternura que havíamos solicitado, melhor será desistirmos e procurar mais adiante os sentimentos que nos negaram. Não fazer esforços inúteis, pois o amor nasce, ou não, espontaneamente, mas nunca por força de imposição. Às vezes, é inútil esforçar-se demais, nada se consegue;outras vezes, nada damos e o amor se rende aos nossos pés. Os sentimentos são sempre uma surpresa. Nunca foram uma caridade mendigada, uma compaixão ou um favor concedido. Quase sempre amamos a quem nos ama mal, e desprezamos quem melhor nos quer. Assim, repito, quando tivermos feito tudo para conseguir um amor, e falhado, resta-nos um só caminho...o de mais nada fazer.
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Clarice Lispector

Eu tenho que te contar uma coisa. Eu já me apaixonei um monte de vezes. Milhões eu diria. Tantas, tantas, tantas. Perdi as contas. Toda vez eu dizia: “ É a última vez, juro solenemente, depois dessa... nunca mais”. E depois de uns dias, outra paixão. Eu sei, isso é idiotice, né? É sério. Um dia me apaixonei 6 vezes, acredita? Num único dia. Eu sei. É muito. Mas, é inevitável. Lembro de todas às vezes, cada uma. Cada momento. O instante preciso. Mas, você sabe? A primeira vez que a gente se apaixona é inesquecível. Pois é. A primeira foi quando o conheci. Todas as outras vezes, foi quando olhava pra ele. Era super simples. Natural eu diria. Como respirar. Isso mesmo, como respirar, simples e inevitável. É mais ou menos assim:quando você quer alguém tanto e isso é impossível, pode não ter nada quanto ter tudo, não faz diferença. Porque nada nem ninguém... é nem parecido com o que o amor da sua vida é. Sempre foi um amor perdido, sabe? Perdido, mas sempre lembrado. O que dói é isso. É nunca se esquecer de vez. E não poder lembrar de tudo. Porque na verdade, só o nada prevalece.
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Lia Aráujo

"Ouça, ela ainda canta. Não é o vento. É o amor soprando as cinzas. É que agora ela anda solta, tropeça pra sentir o chão mais de perto e ter a certeza de que dali, não passa. Por que entre uma dor e outra é sempre bom guardar um pouco de si atrás do sim e dos sonhos à dois. A arte de esquecer nem sempre sobrevive no rir das próprias dores, as vezes, beira - se à hipocrisia. Sobrevive no acordar das vontades, no abraçar dos detalhes, no esperar e calar das horas. Ela não perdeu o ritmo. Amanhece com o coração mais torto do que nunca mas, reinventado. Vive enquanto compõe milagres. Hoje, alguns sussuros dormem lá fora. Os mais bonitos, cantam dentro."
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Priscila Rôde
"Realidade não me impressiona. Eu só acredito em intoxicação, em êxtase, e quando vida ordinária me algemar, eu escapo, de uma maneira ou de outra. Nenhum muro mais."
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(Anaïs Nin)
- Só sei que nós nos amamos muito...
- Porque você está usando o verbo no presente? Você ainda me ama?
- Não, eu falei no passado!
- Curioso né? É a mesma conjugação.
- Que língua doida! Quer dizer que NÓS estamos condenados a amar para sempre?
- E não é o que acontece? Digo, nosso amor nunca acaba, o que acaba são as relações...
- Pensar assim me assusta.
- Por que? Você acha isso ruim?
- É que nessas coisas de amor eu sempre dôo demais...
- Você usou o verbo 'doer' ou 'doar'?
- [Pausa] Pois é, também dá no mesmo...
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Gian Fabra

terça-feira, 27 de julho de 2010


Posso agora dizer ao tempo, em seus rigores:
- Não envelheço, não! podeis correr, sem calma,
Levando na torrente as vossas murchas flores
Ninguém há de colher a flor que eu tenho n’alma!
(...)
Victor Hugo



Perdi vinte em vinte e nove amizades
Por conta de uma pedra em minhas mãos
Me embriaguei morrendo vinte e nove vezes
Estou aprendendo a viver sem você
(Já que você não me quer mais)
(...)
Passei vinte e nove meses num navio
E vinte e nove dias na prisão
E aos vinte e nove, com o retorno de Saturno
Decidi começar a viver.
Quando você deixou de me amar
Aprendi a perdoar
E a pedir perdão.
(E vinte e nove anjos me saudaram
E tive vinte e nove amigos outra vez)
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Renato Russo

quarta-feira, 21 de julho de 2010

Sim, sei bem
Que nunca serei alguém.
Sei de sobra
Que nunca terei uma obra.
Sei, enfim,
Que nunca saberei de mim.
Sim, mas agora,
Enquanto dura esta hora,
Este luar, estes ramos,
Esta paz em que estamos,
Deixem-me crer
O que nunca poderei ser.
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Fernando Pessoa

segunda-feira, 19 de julho de 2010

Quando eu morrer
mesmo em tristeza devastada
morrerei de alegria de terem sido possíveis:
o amor a tristeza e a aventura de ser carne
em meio a tampas e pedras.
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Iracema Macedo.

Para que partir
se meu lugar contém
todos os lugares?

O que está longe não existe
e em todo lugar é a mesma dor.
Inútil partir, viajar, desesperar...
Toda geografia é interior.
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Hildeberto Barbosa Filho

sexta-feira, 16 de julho de 2010


Que mal o amor me tem feito!
Duvidas?! Pois, se duvidas,
Vem cá, olha estas feridas,
Que o amor abriu no meu peito.
(...)
Augusto dos Anjos



Que este amor não me cegue nem me siga.
E de mim mesma nunca se aperceba.
Que me exclua do estar sendo perseguida
E do tormento
De só por ele me saber estar sendo.
Que o olhar não se perca nas tulipas
Pois formas tão perfeitas de beleza
Vêm do fulgor das trevas.
E o meu Senhor habita o rutilante escuro
De um suposto de heras em alto muro.
Que este amor só me faça descontente
E farta de fadigas.
E de fragilidades tantas
Eu me faça pequena.
E diminuta e tenra
Como só soem ser aranhas e formigas.
(...)
Que este amor só me veja de partida.
.
Hilda Hilst
Teus olhos são meus livros.
Que livro há aí melhor,
Em que melhor se leia
A página do amor?

Flores me são teus lábios.
Onde há mais bela flor,
Em que melhor se beba
O bálsamo do amor?
.
(Machado de Assis)



Que eras tu meu ser, querida,
Teus olhos a minha vida,
Teu amor todo o meu bem…
(...)
.
Almeida Garret

Não esperava, agora, a tua vinda.
Eu tão despreocupado estava, ainda,
Levando a vida como num brinquedo…
(Bastos Tigre)

quinta-feira, 15 de julho de 2010


Não se afobe, não
Que nada é pra já
O amor não tem pressa
Ele pode esperar em silêncio
Num fundo de armário
Na posta-restante
Milênios, milênios
No ar.
(...)
Não se afobe, não
Que nada é pra já
Amores serão sempre amáveis
Futuros amantes, quiçá
Se amarão sem saber
Com o amor que eu um dia
Deixei pra você.
.
Chico Buarque

quarta-feira, 14 de julho de 2010

PASSAGEM DAS HORAS

Trago dentro do meu coração,
Como num cofre que se não pode fechar de cheio,
Todos os lugares onde estive,
Todos os portos a que cheguei,
Todas as paisagens que vi através de janelas ou vigias,
Ou de tombadilhos, sonhando,
E tudo isso, que é tanto, é pouco para o que eu quero.
Viajei por mais terras do que aquelas em que toquei...
Vi mais paisagens do que aquelas em que pus os olhos...
Experimentei mais sensações do que todas as sensações que senti,
Porque, por mais que sentisse, sempre me faltou que sentir
E a vida sempre me doeu, sempre foi pouco, e eu infeliz.
Não sei se a vida é pouco ou demais para mim.
Não sei se sinto de mais ou de menos, não sei
Se me falta escrúpulo espiritual, ponto-de-apoio na inteligência,
Consangüinidade com o mistério das coisas, choque
Aos contatos, sangue sob golpes, estremeção aos ruídos,
Ou se há outra significação para isto mais cômoda e feliz.
Vi todas as coisas, e maravilhei-me de tudo,
Mas tudo ou sobrou ou foi pouco - não sei qual - e eu sofri.
Vivi todas as emoções, todos os pensamentos, todos os gestos,
E fiquei tão triste como se tivesse querido vivê-los e não conseguisse.
Amei e odiei como toda gente,
Mas para toda a gente isso foi normal e instintivo,
E para mim foi sempre a exceção, o choque, a válvula, o espasmo.
Sentir tudo de todas as maneiras,
Viver tudo de todos os lados,
Ser a mesma coisa de todos os modos possíveis ao mesmo tempo,
Realizar em si toda a humanidade de todos os momentos
Num só momento difuso, profuso, completo e longínquo.
Eu quero ser sempre aquilo com quem simpatizo,
Eu torno-me sempre, mais tarde ou mais cedo,
Aquilo com quem simpatizo, seja uma pedra ou uma ânsia,
Seja uma flor ou uma idéia abstrata,
Seja uma multidão ou um modo de compreender Deus.
E eu simpatizo com tudo, vivo de tudo em tudo.
(...)
Multipliquei-me, para me sentir,
Para me sentir, precisei sentir tudo,
Transbordei, não fiz senão extravasar-me,
Despi-me, entreguei-me,
E há em cada canto da minha alma um altar a um deus diferente.
Sentir tudo de todas as maneiras,
Ter todas as opiniões,
Ser sincero contradizendo-se a cada minuto,
Desagradar a si próprio pela plena liberalidade de espírito,
E amar as coisas como Deus.
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Álvaro de Campos, 22-5-1916,
Pseudônimo do encantador Fernando Pessoa

terça-feira, 13 de julho de 2010

Com licença poética.

Quando nasci um anjo esbelto,desses que tocam trombeta, anunciou: vai carregar bandeira.Cargo muito pesado pra mulher, esta espécie ainda envergonhada. Aceito os subterfúgios que me cabem, sem precisar mentir.Não sou tão feia que não possa casar, acho o Rio de Janeiro uma beleza e ora sim, ora não, creio em parto sem dor. Mas o que sinto escrevo. Cumpro a sina. Inauguro linhagens, fundo reinos - dor não é amargura. Minha tristeza não tem pedigree, já a minha vontade de alegria, sua raiz vai ao meu mil avô.Vai ser coxo na vida é maldição pra homem. Mulher é desdobrável. Eu sou.
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Adélia Prado

segunda-feira, 12 de julho de 2010



Hoje de manhã, quero tentar uma oração que seja pessoal, não herdada. Sei que se trata de uma tarefa que exige uma sinceridade mais que humana. É evidente, em primeiro lugar, que me está vedado pedir. Pedir que não anoiteçam meus olhos seria loucura; sei de milhares de pessoas que vêem e que não são particularmente felizes, justas ou sábias. O processo do tempo é uma trama de efeitos e causas, de sorte que pedir qualquer mercê, por ínfima que seja, é pedir que se rompa um elo dessa trama de ferro, é pedir que já se tenha rompido. Ninguém merece tal milagre. Não posso suplicar que meus erros me sejam perdoados; o perdão é um ato alheio e só eu posso salvar-me. O perdão purifica o ofendido, não o ofensor, a quem quase não afeta. A liberdade de meu arbítrio é talvez ilusória, mas posso dar ou sonhar que dou. Posso dar a coragem, que não tenho; posso dar a esperança, que não está em mim; posso ensinar a vontade de aprender o que pouco sei ou entrevejo. Quero ser lembrado menos como poeta que como amigo; que alguém repita uma cadência de Dunbar ou de Frost ou do homem que viu à meia-noite a árvore que sangra, a Cruz, e pense que pela primeira vez a ouviu de meus lábios. O restante não me importa; espero que o esquecimento não demore. Desconhecemos os desígnios do universo, mas sabemos que raciocinar com lucidez e agir com justiça é ajudar esses desígnios, que não nos serão revelados.
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Jorge Luis Borges, poeta argentino.

Os ignorantes são mais felizes
Eles não sabem quando vão morrer
Eu Não!
Eu sei que eu tenho um encontro marcado
As pessoas esquecem o que precisam fazer
Eu não posso me dar esse luxo
Faço tudo caber nos meus próximos poucos dias
Todas as idéias que eu teria as pessoas que eu conheceria
O que eu fosse se ainda fosse cantar
Estou grávido mais não posso esperar
O tempo não pára e agente ainda passa correndo
E eu fiquei aqui, tentando agarrar o que eu puder
Ando fraco.
Tem um mundo ao redor que agente nem percebe
Tô ficando magro e pequeno nas minhas roupas
Sinto que estou reunindo minhas coisinhas
Me concentrando..
Se pudesse, guardava tudo numa garrafa, e bebia de uma vez
Penso no que vai ficar de mim
Eu... só sei insistir.
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Grande Cazuza, 20 anos sem ele.




''O amor é procurar cabelos para completar as mãos, é procurar o que não se viveu para contar. É esperar o sol aquecer o lado ileso da cama. É não apagar direito a ausência, a letra, o cheiro. É insistir com respostas sem as perguntas. Adiar o amor ainda é cumpri-lo. Fingir que não se sente é exercê-lo. O amor devora os sobreviventes. Não lembra do pente, da navalha, da tesoura de unhas, do jornal, do abajur. O amor não lembra do que precisa. Amor é não precisar de nada. É precisar do que acontece depois do nada, ainda que não aconteça. O amor confunde para se chegar ao mistério. Embaralha para não se ouvir. Perde-se no próprio amor a capacidade de amar. Amor é comer a fruta do chão. O chão da fruta. O amor queima os papéis, os compromissos, os telefones onde havia nomes. O amor não se demora em versos, se demora no assobio do que poderia ser um verso. O amor é uma amizade que não foi compreendida, uma lealdade que foi quebrada. O amor é um desencontro por dentro."
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Fabricio Carpinejar

quinta-feira, 8 de julho de 2010



"E uma compulsão horrível de quebrar imediatamente qualquer relação bonita que mal comece a acontecer. Destruir antes que cresça. Com requintes, com sofreguidão, com textos que me vêm prontos e faces que se sobrepõem às outras. Para que não me firam, minto. E tomo a providência cuidadosa de eu mesmo me ferir, sem prestar atenção se estou ferindo o outro também. Não queria fazer mal a você. Não queria que você chorasse. Não queria cobrar absolutamente nada. Por que o Zen de repente escapa e se transforma em Sem? Sem que se consiga controlar".
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Caio Fernando Abreu, mágico Caio.

terça-feira, 6 de julho de 2010


'Vou ensinar o que agorinha eu sei, demais:
é que a gente pode ficar sempre alegre, alegre,
mesmo com toda coisa ruim que acontece acontecendo.
A gente deve de poder ficar então mais alegre,
mais alegre, por dentro!'
.
Guimarães Rosa

segunda-feira, 5 de julho de 2010



A maior riqueza do homem
é a sua incompletude.
Nesse ponto sou abastado.
Palavras que me aceitam como
sou - eu não aceito.
Não agüento ser apenas um
sujeito que abre portas,
que puxa válvulas,
que olha o relógio,
que compra pão às 6 horas da tarde,
que vai lá fora,que aponta lápis,
que vê a uva etc. etc.
Perdoai..
Mas eu preciso ser Outros.
Eu penso renovar o homem
usando borboletas.
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Manoel de Barros, grande!


Que um amor te aconteça
Que um amor te salve
Que um amor te cuide..
.
Améééééém!


A descoberta do amor,meu bem
o amor é zen
o amor é desnudado
de parades e telhados
o amor é o gozo dos amados
a vida é um paraíso pervertido
guarde tuas roupas
em meio aos meus livros
o amor são os animais felizes
enquanto a gente se ama
o amor é água em chamas
tu me chamas
e da mãe terra eu venho
das raízese dos animais felizes
ao céu
ao vento
o amor é alento
em todas as idades
o amorao tempo
subvertendo a sociedade
mora aonde o amor ?
o amor é de rua,é do pensamento
fala com todo mundo
o amor tem três sexos
e nenhum documento!
.
Juliano Beck
http://nasentrelinguas.blogspot.com/

sexta-feira, 2 de julho de 2010



“E eu não tenho necessidade de ti. E tu não tens necessidade de mim. Mas, se tu me cativas, nós teremos necessidade um do outro. Serás pra mim o único no mundo. E eu serei para ti a única no mundo…”
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O pequeno príncipe - Antoine de Saint-Exupéry


"Fazia muito tempo que eu não tinha vontade de sorrir para nada nem para ninguém, então era extraordinário que ele conseguisse perturbar assim os cantos de meus lábios."
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Caio F. Abreu


Eu quis que ele não soubesse meu nome,
depois quis ter o dele logo depois do meu.
.
Tati Bernardi


"E você aprende a recomeçar agradecendo por vitórias tão pequenininhas
Como quando é noite e antes de dormir você se enche de gratidão:
'Deus, obrigada, porque é noite e eu tenho o sono...
Que venha um sonho novo, então’."
.
Marla de Queiroz